Departamento de Microbiologia e Parasitologia

Malária: uma doença que volta a aumentar no país

Postado por mipuff em 30/nov/2018 - Sem Comentários

Anopheles: o mosquito vetor da malária
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Hoje, junto da Tuberculose e da AIDS, a Malária está entre as três doenças infecto-parasitárias de maior frequência no Brasil. Após cinco anos de redução do número de casos ( cerca de 250.000 em 2012 para 75.000 em 2016), novamente o país retorna a aumentar a casuística tanto na Região Amazônica, quanto na região Extra-Amazônica; com surtos na Bahia e no Espírito Santo. Essas informações corroboram o fato de que é necessário uma atenção maior à doença no país.

No Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Instituto Biomédico, a área é alvo de linhas de pesquisa do professor Ricardo Dantas, que explicou nessa matéria um pouco melhor sobre essa doença que permanece negligenciada no território nacional.

Sobre o significado de Malária, o professor, graduado em Farmácia pela Universidade Federal Fluminense explicou:

“O nome malária vem do italiano “mal aire” que significa “mau ar” por que acreditava-se que o mau ar que vinha dos pântanos era o causador da doença. Apenas depois se descobriu que o que vinha dos pântanos não eram os mau ares, mas sim os mosquitos vetores, e assim ficou.”

Ao comentar sobre sua linha de pesquisa, Ricardo explicou o início de sua relação com a doença, há mais de uma década atrás:

“Em 2003 atrás eu comecei a estudar a interação entre o parasito e o hospedeiro humano. Eu comecei estudando a interação entre o parasito e a sua entrada no interior da Hemácia. Na época a gente descobriu que grupos sanguíneos eram  as moléculas responsáveis pela entrada do parasito no interior da célula sanguínea. Nós temos expressos nas nossas hemácias mais de 36 tipos diferentes de grupo sanguíneos, sendo os mais conhecidos o ABO. A literatura mostrava que o Plasmodium vivax (uma das espécies do parasito) usava o grupo sanguíneo Duffy como molécula para ele entrar dentro da hemácia, já o Plasmodium falciparum (outra espécie) usava um outro grupo, o MNS e eu comecei a justamente estudar a variabilidade genética desses grupos sanguíneos para ver se tinha diferença, se existiam pessoas mais suscetíveis a se infectar por um ou por outro parasito. Nas pesquisas, vimos que indivíduos heterozigotos para o grupo Sanguíneo Duffy eram muito mais suscetíveis ao Plasmodium vivax que os homozigotos. Ainda em relação ao a esta espécie de Plasmodium, tivemos uma surpresa muito grande. Em 1976 um grupo de pesquisadores postularam que pessoas que não expressavam esse grupo Sanguíneo Duffy não pegava esse tipo de malária. Quando a gente foi estudar em 2003 isso aqui na Amazônia brasileira, nós encontramos indivíduos infectados pelo vivax que eram Duffy negativos. Então começamos a ver a adaptação do parasito. Hoje isso já foi comprovado em várias áreas endêmicas brasileiras e na África também. Ou seja, isso comprova que o parasito está se adaptando. Isso mudou a teoria mundial sobre a malária vivax.

Então isso me chamou atenção. Disso (do grupo sanguíneo) em 2010 eu migrei para o estudo do Sistema Imune, buscando saber se havia algo no nele responsável por essa seleção de indivíduos que desenvolvem malária. Então, a partir dessa data eu passei a pesquisar a imunogenética.

Atualmente, venho começando a trabalhar com uma molécula chamada Citocromo P450 que é importante na biometabolização de drogas. E alguns trabalhos começaram a mostrar que mutações no gene que codifica essa molécula, e isso com relação à malária, gera diferente respostas do paciente ao tratamento da malária. Outra linha que tenho pesquisado também são os fitoterápicos, uma alternativa de tratamento que pode se explorada.”

Quando questionado sobre o motivo de ele ter escolhido a Malária como área de atuação, o professor comentou:

“Ela me escolheu. Eu sou graduado pela UFF em Farmácia. Terminei a faculdade, em 1991 e fui chamado para ser professor substituto na Faculdade de Farmácia. Após o fim do contrato desempregado, me dirigi ao Amapá por conta de uma oportunidade de emprego para a minha área. Lá eu tive contato com uma pessoa que trabalhava com Malária, fazendo estudos epidemiológicos na região. A partir dela fui convidado a trabalhar no Instituto Evandro Chagas. Nisso eu comecei a me apaixonar, prosseguindo com mestrado e doutorado sobre o assunto e pesquisando até o momento atual.

Então a malária aconteceu na minha vida de uma forma não programada, ela que cruzou por mim.

Ricardo explicou ainda o motivo da dificuldade de se desenvolver uma vacina para a doença e os hábitos do inseto vetor:

“O motivo de não termos uma vacina está ligado ao fato de que as moléculas estimuladoras do sistema imune presentes no parasito que poderiam ser usadas como candidatas à vacina são altamente polimórficas. A variabilidade genética dessas moléculas imunogênicas é imensa, então é quase impossível desenvolver uma vacina.

Sobre o vetor, é o mosquito do gênero Anopheles, que tem hábitos noturnos. As fêmeas (que transmitem o agente), saem por volta das 17h da tarde e até as 5 da manhã ela está em atividade. Então, nas áreas endêmicas, quaisquer atividades durante esse horário, propiciam ao indivíduo maior chance de contrair malária como pessoas que pescam nesses horários, que lavam roupa no rio, atividades muito comuns nas áreas endêmicas. Temos em torno de 70 espécies desse mosquito no Brasil, mas o Anopheles darlingi é a principal espécie. Todas elas fazem seu ciclo biológico em criadouros no chão, gostam de água limpa, sombreada, com pequena correnteza, diferente do Aedes aegypti, vetor de doenças como a Dengue e Febre Amarela.

No Sudeste e Sul, temos duas espécie de Anopheles diferentes, que fazem seu ciclo não no solo, mas sim nas bromeliáceas, que é o Anopheles bellator e o Anopheles cruzii

Com relação ao aumento do número de casos da doença nos últimos anos, o professor explicou sua relação com o poder público:

“O histórico da Malária no Brasil tem altos e baixos, ele está muito ligado ao poder público. A partir 2012 o Programa Nacional de Controle de Malária criado pelo Ministério da Saúde tinha um grupo muito comprometido com essa redução de casos de malária. O que esse grupo fez? Aumentou o número de postos de diagnóstico pela Amazônica, aumentou a disponibilização de mosquiteiros impregnados com inseticida, fez um trabalho de Reciclagem dos microscopistas, por que a gente também tem muito problema com o diagnóstico por microscopia. Com isso, de 2012 até 2016 nós saímos de 350 mil casos/ano para um número próximo de 80.

Em 2016 nós tivemos aqueles casos de Zika Vírus, Chikungunya, Dengue, e o que o Ministério da Saúde fez? Começou a focar nessas outras doenças. Nisso, o Ministério pegou o  Programa Nacional de Controle de Malária e juntou num programa de Doenças com Transmissão por Vetor, que envolvia todas as outras doenças ditas. Isso enfraqueceu politicamente e em verbas o combate à malária, retornando a partir desse ano ao crescimento dos casos. Estamos chegando em outubro de 2018 com mais de 190 mil casos/ano. Então é uma doença que depende muito do poder público para que haja o controle.”

Para Ricardo, uma vez que não há vacina para a doença, a prevenção é essencial para diminuir o número de casos de Malária no país:

“O que é essencial que todos saibam sobre a Malária é o mecanismo de transmissão, saber como se pega a doença, para assim, poder se prevenir”

Além disso, para ele além da atuação da população junto ao poder público, o papel dos agentes de saúde é fundamental no controle da doença:  “O diagnóstico rápido e tratamento rápido e correto são medidas essenciais para controlar o número de casos e de óbitos pela doença, para isso é essencial ter profissionais da saúde capacitados em reconhecer uma clínica suspeita de Malária, saber encaminhar o paciente a uma área de diagnóstico e, por fim, saber tratar de forma correta, aumentando as chances de cura.”

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